Vimos algumas regras básicas sobre a construção de uma notícia. Agora é o momento de pensar melhor sobre o que pretende divulgar, sobre o que vai tornar público.
Antes de colocar na internet uma notícia, avalie seu trabalho e reflita se fez o melhor que pôde. É preciso ser
responsável ao lidar com assuntos que interferem na vida de outras pessoas. A seguir, você encontra alguns conselhos para fazer jornalismo cidadão do jeito certo:
Entrevistar – Entrevistar é como conversar, com alguns cuidados. É importante preparar-se para uma entrevista, conhecer detalhes sobre o assunto que vai abordar, pesquisar a biografia do entrevistado. Dessa forma, você evita perguntas óbvias e estabelece uma conversa mais produtiva. Não desperdice seu tempo e o do entrevistado, mostre que se preparou para aquele momento.
Elabore uma pauta – uma lista de perguntas, e fique atento aos desvios de tema decorrentes da conversa. Não tenha receio de sair de seu roteiro de perguntas, mas procure terminar a entrevista com as perguntas essenciais respondidas.
Não tenha vergonha de dizer “não entendi” e pedir ao entrevistado que explique novamente uma resposta.
Também não se sinta acuado quando sua questão não for respondida satisfatoriamente. Refaça a pergunta de outra
forma, se necessário. Com gentileza, não desista de seu objetivo.
Grave sempre a conversa para que você possa conferir o que foi dito e possa provar o que divulgou, caso seja contestado publicamente. Ao solicitar uma entrevista, avise antes o que pretende fazer com a conversa (publicar no blog, vlog, podcast ou oferecer para veículos de mídia
ou portais colaborativos).
Você pode fazer uma entrevista por e-mail, telefone, por comunicador, videoconferência e, de preferência, quando possível, pessoalmente.
O contato pessoal com o entrevistado é valioso. Dá chance de captar elementos que a comunicação virtual não permite. Em alguns casos, o ambiente onde se dá a conversa, os trejeitos do entrevistado, ou ainda certos detalhes, como um porta-retratos, acrescentam informações que não são ditas. Sem falar que em um encontro pessoal é possível fotografar e filmar sua fonte. Em qualquer dos casos, guarde a gravação da conversa.
Você pode usar o material de várias maneiras: reproduzir apenas um trecho, transcrever tudo ou oferecer as mesmas informações sem ser na tradicional forma de pergunta e resposta.
Você pode optar, por exemplo, por contar a história da entrevista - os passos para consegui-la e como foi a conversa - e nessa história relatar o que o entrevistado contou. O importante é manter-se fiel ao que foi registrado e procurar não distorcer o que foi dito em determinado contexto ao isolar e alterar seu significado.
Ouvir os dois lados – Esse é um ponto fundamental. Qualquer questão a ser abordada tem pelo menos dois lados. Mesmo que você seja partidário de um deles, tente dar voz ao outro. Seu material será mais confiável e mais
interessante se você der oportunidade ao público de tirar conclusões próprias.
Se um dos seus entrevistados acusar um terceiro, é seu dever ouvir a pessoa citada, para que ela tenha a oportunidade de se defender. Se você não fizer isso, ela pode pedir na Justiça o direito de se pronunciar.
Checar tudo, mais de uma vez – Confirme todos os dados que você divulgar. Veja se o que você publica é verdade. Verifique datas, locais, horários. Confirme nomes e, quando for escrevêlos, seja em um texto ou uma legenda de vídeo ou foto, certifique-se sobre a grafia correta.
Dar nome aos bois – Uma coisa é conversar com seu amigo sem compromisso, outra é usar a internet para divulgar notícias. O impacto de suas ações é bem diferente. Pense nisso quando for usar termos como “ladrão”, “corrupto”, “sem vergonha” e outros com o mesmo peso.
Lembre que todo mundo é considerado inocente até que se prove o contrário. Ladrão, portanto, é aquele que foi julgado e condenado ou preso em flagrante. Chamar inadvertidamente alguém de ladrão pode render um processo por calúnia e danos morais. O mesmo vale para qualquer termo pejorativo ou julgamento sem provas.
Cuidado com dados oficiais – Dados oficiais são, como o nome já diz, oficiais. Isso não significa que são necessariamente expressão da realidade. Procure sempre comparar os dados fornecidos por órgãos ou empresas com dados obtidos em outras fontes. Se não for possível
obter outros dados, tente ao menos entrevistar pessoas que possam dar um panorama mais completo sobre o assunto debatido.
Sem resposta – O que fazer quando um pedido de entrevista ou solicitação de comunicado é negado? Você já deve ter visto como a grande imprensa trabalha com isso. Inclua no trabalho a ser publicado a referência: “fulano (que pode ser uma pessoa, entidade ou empresa) não quis dar declarações”.
Esse recurso só é válido quando você recebeu um não oficial de seu interlocutor. Não o use como muleta, ele não vale para situações em que o interlocutor não foi encontrado ou quando o telefone dele só dá ocupado, por exemplo.
Credibilidade – Seguir essas orientações e agir de maneira transparente, ou seja, contando a seu leitor, ouvinte ou espectador como a notícia foi produzida, sem enganá-lo, é a maneira mais simples de ganhar credibilidade.
Essas práticas jornalísticas, incorporadas ao trabalho com notícias, contribuem para um trabalho responsável e bem feito. Elas trazem dicas para facilitar a comunicação e não devem ser tomadas como imposições, nem aprisionar o seu trabalho em formatos preestabelecidos.