Atenção às leis

Valem para a internet e para o universo do jornalismo cidadão as mesmas restrições legais que se aplicam a outros veículos de comunicação. Como cidadão jornalista, você tem de movimentar-se entre a liberdade de expressão e os limites impostos por lei. O bom senso pode ajudá-lo a mapear o que é proibido.
Conteúdo racista ou que expresse preconceito religioso é considerado crime. Espalhar boatos, se passar por outra pessoa, divulgar dados confidenciais de pessoa ou empresa, usar logomarca alheia, fazer apologia ao crime, dar dicas sobre como piratear serviços, transmitir informações sobre atividades ilegais também são.
Tudo isso você, como cidadão, já sabe que são ações sujeitas a punição. No ciberespaço, nada muda, também são atividades ilegais.
Quando se trabalha com imagens e materiais produzidos por outras pessoas, é preciso prestar atenção nos direitos autorais e de reprodução. A internet pode dar, às vezes, a falsa impressão de que tudo pode ser copiado livremente. Mas não é bem assim. Veja abaixo como proceder para
evitar problemas.
Direito de imagem – Quem tem direito sobre sua imagem? A resposta é simples: você mesmo. Pense nisso quando quiser utilizar a imagem de outra pessoa. Você não pode sair fotografando ou filmando desconhecidos e publicar essas imagens em seu blog, flog ou vlog.
Para ter esse direito, é preciso que elas autorizem a reprodução. O mesmo vale para imagens que você encontra na web. Elas podem ter licenças de uso, mas se essa autorização não se estende a você, nada feito, você não pode usá-las.
Também é necessária autorização para divulgar imagens de locais privados. Procure o dono do local ou responsável e peça a autorização. Fotos ou gravações onde as pessoas não podem ser reconhecidas ou de personalidades em locais públicos podem ser utilizadas livremente.
Direito de reprodução – A facilidade com que encontramos material disponível na web dá a sensação de que nada é de ninguém. Não é bem assim. A legislação brasileira não permite a cópia, nem a distribuição livre de material protegido pelo direito autoral, o chamado copyright.
Você pode e deve fazer referência a material protegido por copyright. Mas faça isso quando a citação for pertinente, quando se referir a determinada obra para fins de estudo, crítica ou polêmica, por exemplo, sempre
indicando o nome do autor e a origem da obra.
Até para as citações há limites. Digamos que você queira comentar uma música e reproduza um trecho para ilustrar suas observações. A reprodução entra como um elemento
complementar, esclarecedor. Você não têm direito de tocar músicas sem autorização, lembre-se.
Se for comentar uma matéria de jornal, tome os mesmos cuidados, cite um trecho da matéria, diga onde ela foi originalmente publicada e, de preferência, forneça também o link para o original.
Direito Autoral – Ele existe fora e dentro da web e deve ser respeitado de acordo com a legislação vigente no país. Mesmo que você pense diferente, não pode ignorar estas regras. A lei diz que você só pode usar material com autorização de quem possui os direitos autorais. Isso vale para qualquer formato de mídia: som, foto, imagem, vídeo e texto. Nunca esqueça de dar crédito para quem produziu o material que você está utilizando. Como alternativa, é possível recorrer a material de domínio público, ou seja, que não é protegido por direitos autorais.
Outra opção são licenças alternativas como as da organização Creative Commons, uma iniciativa que surgiu em 2001 para criar um meio termo entre "todos os direitos reservados" e o plágio puro e simples. Você tanto
pode utilizar o material publicado sob as licenças Creative Commons como pode licenciar sua produção por estas regras.
A Creative Commons propõe o seguinte: em vez de dizer que o conteúdo publicado é seu, e de mais ninguém, há outra opção, mais no espírito da internet. A proposta é dizer que o seu trabalho pode ser copiado ou distribuído à vontade, desde que... aí você define o que quer em troca.
Mostrar o selo Creative Commons na página significa que você estabeleceu os termos de uso de sua obra de forma que apenas alguns direitos ficam reservados. As licenças podem ser combinadas entre si:
Atribuição: você permite que outros copiem, distribuam, exibam e interpretem sua obra e trabalhos derivados dela com a condição de que eles creditem a você a autoria.
Uso não comercial: você permite que outros copiem, distribuam, exibam e interpretem sua obra e trabalhos derivados dela apenas para fins não comerciais.
Não a obras derivadas: você permite que outros copiem, distribuam, exibam e interpretem apenas cópias idênticas à obra, mas não permite trabalhos derivados dela. Compartilhamento pela mesma licença: você autoriza a distribuição de trabalhos derivados da obra com a condição de que eles tenham uma licença idêntica à que governa o seu trabalho.

Não caia nessa

Mesmo que você queira deixar de lado certos cuidados, tenha em mente alguns limites. Há práticas pouco ou nada recomendáveis no universo do jornalismo cidadão. Algumas dizem respeito a você, a sua segurança física ou
jurídica; outras estão ligadas à ética e ao respeito mútuo entre cidadãos, estejam eles produzindo notícias ou sendo noticiados. Lembre-se de que a qualquer momento você pode estar em um dos pratos dessa balança.
Não se arrisque – Às vezes, para obter a melhor foto ou gravação é preciso enfrentar um grande risco. Não pule dentro de uma casa em chamas apenas para registrar o incêndio, por exemplo. Nesse caso, é melhor ficar sem a
imagem.
Peça autorização - Divulgar imagens, fotos ou vídeos de pessoas sem que seja autorizada a sua reprodução e divulgação pode resultar em processos na Justiça. Peça, portanto, uma autorização por escrito.
Não minta – Errar é humano. Mentir também. Mas a mentira pode ser o caminho mais curto entre você e o tribunal.

Fazer do jeito certo

Vimos algumas regras básicas sobre a construção de uma notícia. Agora é o momento de pensar melhor sobre o que pretende divulgar, sobre o que vai tornar público.
Antes de colocar na internet uma notícia, avalie seu trabalho e reflita se fez o melhor que pôde. É preciso ser
responsável ao lidar com assuntos que interferem na vida de outras pessoas. A seguir, você encontra alguns conselhos para fazer jornalismo cidadão do jeito certo:
Entrevistar – Entrevistar é como conversar, com alguns cuidados. É importante preparar-se para uma entrevista, conhecer detalhes sobre o assunto que vai abordar, pesquisar a biografia do entrevistado. Dessa forma, você evita perguntas óbvias e estabelece uma conversa mais produtiva. Não desperdice seu tempo e o do entrevistado, mostre que se preparou para aquele momento.
Elabore uma pauta – uma lista de perguntas, e fique atento aos desvios de tema decorrentes da conversa. Não tenha receio de sair de seu roteiro de perguntas, mas procure terminar a entrevista com as perguntas essenciais respondidas.
Não tenha vergonha de dizer “não entendi” e pedir ao entrevistado que explique novamente uma resposta.
Também não se sinta acuado quando sua questão não for respondida satisfatoriamente. Refaça a pergunta de outra
forma, se necessário. Com gentileza, não desista de seu objetivo.
Grave sempre a conversa para que você possa conferir o que foi dito e possa provar o que divulgou, caso seja contestado publicamente. Ao solicitar uma entrevista, avise antes o que pretende fazer com a conversa (publicar no blog, vlog, podcast ou oferecer para veículos de mídia
ou portais colaborativos).
Você pode fazer uma entrevista por e-mail, telefone, por comunicador, videoconferência e, de preferência, quando possível, pessoalmente.
O contato pessoal com o entrevistado é valioso. Dá chance de captar elementos que a comunicação virtual não permite. Em alguns casos, o ambiente onde se dá a conversa, os trejeitos do entrevistado, ou ainda certos detalhes, como um porta-retratos, acrescentam informações que não são ditas. Sem falar que em um encontro pessoal é possível fotografar e filmar sua fonte. Em qualquer dos casos, guarde a gravação da conversa.
Você pode usar o material de várias maneiras: reproduzir apenas um trecho, transcrever tudo ou oferecer as mesmas informações sem ser na tradicional forma de pergunta e resposta.
Você pode optar, por exemplo, por contar a história da entrevista - os passos para consegui-la e como foi a conversa - e nessa história relatar o que o entrevistado contou. O importante é manter-se fiel ao que foi registrado e procurar não distorcer o que foi dito em determinado contexto ao isolar e alterar seu significado.
Ouvir os dois lados – Esse é um ponto fundamental. Qualquer questão a ser abordada tem pelo menos dois lados. Mesmo que você seja partidário de um deles, tente dar voz ao outro. Seu material será mais confiável e mais
interessante se você der oportunidade ao público de tirar conclusões próprias.
Se um dos seus entrevistados acusar um terceiro, é seu dever ouvir a pessoa citada, para que ela tenha a oportunidade de se defender. Se você não fizer isso, ela pode pedir na Justiça o direito de se pronunciar.
Checar tudo, mais de uma vez – Confirme todos os dados que você divulgar. Veja se o que você publica é verdade. Verifique datas, locais, horários. Confirme nomes e, quando for escrevêlos, seja em um texto ou uma legenda de vídeo ou foto, certifique-se sobre a grafia correta.
Dar nome aos bois – Uma coisa é conversar com seu amigo sem compromisso, outra é usar a internet para divulgar notícias. O impacto de suas ações é bem diferente. Pense nisso quando for usar termos como “ladrão”, “corrupto”, “sem vergonha” e outros com o mesmo peso.
Lembre que todo mundo é considerado inocente até que se prove o contrário. Ladrão, portanto, é aquele que foi julgado e condenado ou preso em flagrante. Chamar inadvertidamente alguém de ladrão pode render um processo por calúnia e danos morais. O mesmo vale para qualquer termo pejorativo ou julgamento sem provas.
Cuidado com dados oficiais – Dados oficiais são, como o nome já diz, oficiais. Isso não significa que são necessariamente expressão da realidade. Procure sempre comparar os dados fornecidos por órgãos ou empresas com dados obtidos em outras fontes. Se não for possível
obter outros dados, tente ao menos entrevistar pessoas que possam dar um panorama mais completo sobre o assunto debatido.
Sem resposta – O que fazer quando um pedido de entrevista ou solicitação de comunicado é negado? Você já deve ter visto como a grande imprensa trabalha com isso. Inclua no trabalho a ser publicado a referência: “fulano (que pode ser uma pessoa, entidade ou empresa) não quis dar declarações”.
Esse recurso só é válido quando você recebeu um não oficial de seu interlocutor. Não o use como muleta, ele não vale para situações em que o interlocutor não foi encontrado ou quando o telefone dele só dá ocupado, por exemplo.
Credibilidade – Seguir essas orientações e agir de maneira transparente, ou seja, contando a seu leitor, ouvinte ou espectador como a notícia foi produzida, sem enganá-lo, é a maneira mais simples de ganhar credibilidade.
Essas práticas jornalísticas, incorporadas ao trabalho com notícias, contribuem para um trabalho responsável e bem feito. Elas trazem dicas para facilitar a comunicação e não devem ser tomadas como imposições, nem aprisionar o seu trabalho em formatos preestabelecidos.

Seu estilo de participar

Quem são os cidadãos jornalistas? Seu perfil é variado. Entre os mais comuns estão:
Publicador - Tem páginas pessoais (blog, flog, vlog) ou produz podcasts com notícias, independentemente do assunto abordado.
Observador – No universo do jornalismo cidadão, quem tem um gravador, uma câmera ou um celular está pronto para registrar eventos imprevisíveis. Muitas vezes, esse observador torna-se fonte de notícia por acaso.
Militante – É o cidadão jornalista que defende uma causa ou dedica-se a um assunto com paixão. Nesse tipo encaixam-se os torcedores de times de futebol, defensores de partidos políticos ou de causas como ambientalismo e a defesa de minorias. O militante pode dedicar-se também aos fatos referentes a sua comunidade, seja ela um prédio, um bairro ou uma associação.
Comentarista – É o cidadão jornalista que se manifesta nas páginas já existentes da web. Ele exercita seu papel por meio de comentários em blogs, flogs, vlogs, fóruns, comunidades ou em portais da grande mídia.
Editor - Seleciona notícias e participa de comunidades ou sites colaborativos nos quais é possível sugerir links da grande imprensa ou de páginas pessoais.
Esses tipos são apenas uma maneira de explicar diferentes formas de participação e não são categorias fixas, combinam-se. Um cidadão jornalista pode ser ao mesmo tempo editor e publicador, por exemplo. Procure identificar em qual desses grupos você se encaixa e com qual ferramenta se sente mais confortável.

Ferramentas do cidadão jornalista

A web é o campo ideal para o cidadão jornalista. Nela, algumas ferramentas criam novos espaços para a comunicação e permitem que a divulgação do que foi produzido seja simples, com baixo custo e ao alcance de todos.
Há ferramentas para quem quer trabalhar com texto, som, fotos, vídeos e até mesmo para quem não tem computador, mas tem um celular capaz de acessar a internet. Blog – Abreviação de weblog, é uma página pessoal atualizada regularmente por uma pessoa ou um grupo. Desponta como o fenômeno mais popular desse novo universo, com milhões de exemplos espalhados pelo mundo.

Em um blog, é possível publicar qualquer tipo de conteúdo, de textos a vídeos. Com ferramentas próprias de interação, por meio de comentários adicionados por qualquer leitor a cada novo post, os blogs tornaram-se a ferramenta de comunicação por excelência de cidadãos digitais.
São fáceis de atualizar e há na web uma variedade de ofertas de serviços gratuitos. Flog – abreviação de fotoblog, é um blog feito com fotos. Seu número cresceu com a popularização das câmeras digitais e dos celulares com câmeras. Flogs atualizados por celular são os chamados “moblogs” (de “mobile”, palavra que em inglês refere-se ao telefone celular).
Vlog – Abreviação de videoblog, o blog feito com vídeos. Um fenômeno que evolui rapidamente, já que a maioria das câmeras digitais e celulares também captura imagens em movimento. Podcast – Podcast é uma forma de distribuir arquivos digitais pela internet. Vem da fusão de duas palavras: iPod, o tocador de arquivos digitais da Apple, e broadcast, que significa transmissão em inglês.
O nome surgiu relacionado ao iPod, mas extrapolou a associação e passou a ser utilizado para definir um tipo de divulgação de arquivos de som, vídeo e imagens.
O podcast tem vários programas, ou episódios, como se fosse um seriado de arquivos. Eles ficam hospedados em um endereço na internet e, por download, chegam ao computador pessoal.
A divulgação do podcast é feita por um arquivo RSS, (mensagens ou torpedo) que traz informações relacionadas aos programas ou episódios. Wiki – Sites wiki permitem alterar, apagar, reescrever ou adicionar conteúdos sem a
necessidade de muitos conhecimentos técnicos. O modelo mais conhecido é a Wikipedia, a enciclopédia virtual que surgiu em 2001, escrita e atualizada pelos usuários.
O Wikinotícias é outro exemplo, no qual os leitores redigem e publicam notícias, que podem ser editadas, ampliadas e reescritas por qualquer outro leitor ou cidadão jornalista. Wikis são hoje muito utilizados para a criação interativa de documentos, inclusive dentro de empresas.
Lista de e-mail – Trocar e-mails é uma das formas de participar da internet, bem explorada em listas que reúnem pessoas com interesses comuns. Nessas listas de debate, os integrantes de um grupo recebem ou têm acesso a todas as mensagens enviadas para um determinado endereço. É uma maneira de compartilhar
informações.
Fórum – É um espaço na web para discussões e troca de idéias onde os internautas deixam comentários, perguntas, críticas ou opiniões sobre tópicos variados. Ao lado das listas de email, está entre as formas mais antigas na web de agrupamento e prática de jornalismo cidadão.
Comunidade – Blogs, flogs, vlogs, podcasts, wikis, listas e fóruns exploram o potencial da rede para criar comunidades. Participar efetivamente delas é uma forma de praticar o jornalismo cidadão e você pode escolher entre atuar nas que já existem ou criar uma nova.
Nos demais títulos da coleção Conquiste a Rede você encontra também informações mais detalhadas sobre blogs, flogs, vlogs e podcasts.

Outros nomes para a mesma coisa

Devido à nomenclatura, muita gente confunde jornalismo cidadão com jornalismo cívico ou o jornalismo feito pelos veículos de mídia com enfoque nos interesses do cidadão.
Há também quem diga que o jornalismo cidadão tem a cidadania como temática. Ele envolve a questão de cidadania, na medida em que as pessoas assumem seu espaço na comunidade ao participar da produção de notícias e da comunicação, mas a prática ultrapassa os limites dos temas sociais ou cívicos e envolve qualquer campo do conhecimento humano.
Os recursos da web popularizaram o movimento do jornalismo cidadão, mas isso não significa que ele só exista no ambiente virtual. Um fanzine ou um vídeo caseiro também são bons exemplos. O que a internet faz é distribuir esse conteúdo para um universo muito mais amplo de leitores.
Os veículos de comunicação tradicionais também abrem espaço, na medida em que divulgam a produção de seu público. O jornalismo cidadão não é, portanto, um concorrente do jornalismo tradicional. Eles podem ser aliados em alguns pontos e podem estar em campos opostos em determinados temas e debates.
Esse fenômeno está em pleno desenvolvimento e, por isso, coexistem várias formas de nomeá-lo.
Jornalismo participativo – Ocorre, por exemplo, nas matérias publicadas por veículos de comunicação que incluem comentários dos leitores. Os comentários somam-se aos artigos, formando um conjunto novo. Dessa forma, leitores participam da notícia. Isso é mais frequente em blogs.
Jornalismo colaborativo - É usado quando mais de uma pessoa contribuiu para o resultado final do que é publicado. Pode ser um texto escrito por duas ou mais pessoas ou ainda uma página que traga vídeos, sons e imagens de vários autores.
Jornalismo código aberto - Surgiu para definir um estilo de jornalismo feito em sites wiki, que permitem a qualquer internauta alterar o conteúdo de uma página. Também pertencem a esse grupo vídeos, fotos, sons e textos distribuídos na rede com licença para serem alterados e retrabalhados.
Jornalismo Grass roots (popular) - Refere-se à participação na produção e publicação de conteúdo na web das camadas periféricas da população, aquelas que geralmente não participam das decisões da sociedade. Quando elas passam a divulgar as próprias notícias, causam um efeito poderoso no mundo da comunicação. Quem usa esse termo defende a ideia de que o jornalismo cidadão está diretamente relacionado à inclusão dessas camadas no universo criado pelas novas tecnologias de comunicação.